DIÁLOGO DO AFETO COM A RAZÃO


(Escrevi este texto em 2011. Lembrei-me dele, há pouco, porque se há uma coisa que me afeta são demonstrações de afetos. E elas surgiram, inesperadas, no momento em que nem sequer eu sabia o quanto precisava delas. Hoje vivi uma manhã assim. Foi uma manhã de afetos que me afetam, e que me resgatam. Que me salvam de mim mesma.)

A vida humana precisa de alimento. O homem necessita não apenas de substâncias que concedem condição física, como também as que mantém o que é inerente ao espírito.  A consciência precisa dos níveis de subconsciência ativos para formá-la e moderá-la. É princípio da condição humana, senão, a criatura não passa de uma semi-besta.

Não sendo o homem essa tal semi-besta - ainda que o instinto lhe confira algumas práticas de características animalescas - ele prescinde, para fortalecer sua consciência, do uso da razão e da intuição - que eu considero ser o conjunto de afetos. Se abrir mão desse conjunto, o preço pode ser tornar-se indiferente a tudo o que razão e afeto dizem sobre si mesmo e sobre o mundo à sua volta. Quando não há tanto o uso da razão quanto do que lhe afeta, o homem perde a consciência.

Há pessoas que vivem em conflito, levando a ferro e a fogo a necessidade de negar ou o afeto ou tentar agir apenas com a razão. Há quem diga que a ação é afeto, não podendo, portanto, ser razão. Que apenas o afeto motiva (Nietzsche). Por mais que eu veja ser racional concordar com o filósofo, penso que limitar-se, privando-se de uma ou de outra força seria como um divórcio com declaração de guerra à própria percepção existencial. Os extremos tendem à loucura, tornando o homem ou amoral, frio e calculista essencialmente, ou, por outro lado, lunático. Abrir mão da razão é optar pela loucura. E fazer isso racionalmente leva a espíritos sem caráter. 

Por que não seria possível apenas reconhecer as forças de ação e de afeto como partes inerentes da nossa formação? Ao tomarmos consciência da importância de ambas, elas não passam a exercer seu peso como recursos, instrumentos a favor da vida prática? As forças, então, se equilibram, em si e por si. Não parece saudável negar a importância de uma delas, já que ambas existem no mesmo lugar, o cérebro humano.

O afeto nos conduz ao que se há de fazer, quando há de fazer.  A razão adverte a ação para o que é preciso evitar. Se completam. O afeto move-nos às descobertas. A razão, ao que as prova. O afeto é intenção, a razão é empírica. Intuição é inteligência, razão é conhecimento. As duas forças têm seu próprio tempo para serem analisadas e reconhecidas. Para tirar o máximo de nós, e das coisas do mundo que nos acontecem, devemos conhecer esses nossos recursos, aperfeiçoá-los e utilizá-los. Todos eles. 

Quando algo não parece bem é a intuição que me avisa. Quando paro, penso, analiso e encontro o meio de corrigir, aí é a minha razão que trabalha. Racionalmente, não sufoco os afetos que nunca ignoram a razão.

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